sábado, 21 de novembro de 2009

O dedo verde de Ney Ururahy




Ele mora em outro bioma. Quando cruzamos o portão da chácara no Lago Sul deixamos a vegetação típica do Cerrado para entrar na Mata Atlântica, vestígios de transição para a Floresta Amazônica e traços de vegetação ciliar, mas há também sinais de Cerrado de Campo Limpo. A impressão é de um jardim botânico. É assim o ambiente de trabalho e residência do paisagista Ney Ururahy, 88 anos, um pioneiro em Brasília.

Ele esteve aqui em 1956 e desembarcou em definitivo com a família em 28 de setembro de 1958. Foi morar em uma das casas do lote de 15 que ficaram prontas no Lago Sul: QL 1, conjunto 16, casa 18. Ney foi o primeiro morador do Lago Sul. Ele não hesitou em mudar para Brasília ao receber o convite de Israel Pinheiro, primeiro presidente da Novacap e prefeito de Brasília, para chefiar seu gabinete.

“Eu achava bonito ver o Lago Paranoá nascendo. Via da minha janela o nível da água subindo a cada dia. Era uma época fantástica, todos eram solidários e havia talentos raros reunidos em um único espaço”, define o paisagista referindo-se a Oscar Nyemeryer, Burle Max, Israel Pinheiro, Athos Bulcão, Juscelino Kubitschek e muitos outros gênios das décadas de 50 e 60.

Ney se define como um “jardineiro chic”. Modéstia, é agrônomo e fez vários cursos de botânica. É um mago da vegetação, tem “dedo verde” e o talento no DNA. O pai, Abelardo da Veiga Ururahy, trabalhou na Divisão de Terras e Colonização, o INCRA da época, e viajava muito pelo País. As histórias das viagens influenciaram o menino Ney, que tinha vontade de conhecer o Cerrado e as Matas de São Patrício, no município goiano de Jaraguá.

O paisagismo do antigo aeroporto de Brasília é obra sua, assim como os jardins da UnB, do Itamaraty, do anexo da Câmara Federal, da SQS 114, da SQS 308 e das embaixadas da Inglaterra e da Itália. Há muito mais, mas a discrição impede que nomeie todas. Cartas? Não lemos nenhuma, mas a filha de Ney, Cristine, prometeu encontrá-las. Em breve voltaremos no bioma que Ney habita para buscar essas relíquias caligrafadas.

2 comentários:

  1. Como é emocionante ler, e até sentir, as memórias de tantos seres humanos que plantaram sonhos nesta nossa maravilhosa cidade! Quantas vidas e sensações. Quantas demonstrações de coragem, amor, fé, humildade e beleza.

    Eu recomendo a leitura das variadas HISTÓRIAS aqui publicadas. O blog Cartas de Brasília nasceu fadado a virar livro. Parabéns por esta belíssima inciativa!

    Adão Paulo Oliveira
    jornalista, mineiro,
    em Brasília desde 1971

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  2. SUGESTAO: Existem personalidades vivas que podem contribui, dentre elas, estão: Engs. Silvio Carlos Pimenta Jaguaribe, Ataulpa Shimith da Silva Prego, Roosvelt Nader, Creso Vilela, Efigenio Jesus Salles, Jose Eduardo Pereira, Carlos Magalhaes da Silveira, Ricardo Jaguaribe, Luiz Edgar Tostes, Sirio Jose de Souza, Lucio Bicalho, Jose Paulo Sepulveda Pertence, Olavo Pinto David, Mauricio Correias, Ari Cunha, Paulo Huelb Rebello, Gilberto Teixeira Alves. Com o tempo vou lembrando e enviando. Abraços. Marcos P. Pimenta Rocha

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